Centaurus em Alerta

O nascimento de uma aventura (e de um romance)

Eu ainda era um mestre novato nos jogos de RPG, algo entre um e dois anos de jogo, quando pensava em uma nova aventura. Por ser inexperiente, ser pioneiro como jogador de RPG em minha cidade e não ter contato com outros grupos, encontrava muita dificuldade no momento. Minhas referências eram o conteúdo da internet, que ainda engatinhava no Brasil, e a única revista especializada em RPG, cujas primeiras edições forneceram informações úteis e muito bem feitas. Sempre que folheava estas primeiras edições, dizia a mim mesmo desejar escrever conteúdos tão bons quanto os que estava lendo, principalmente as aventuras. Lembro que desta vez, em particular, reparei que fazia isso sempre e que, ao fazê-lo, acabava menosprezando minha capacidade. Foi nesse dia que mudei minha concepção de ser mestre e ser capaz. Disse em voz alta a mim mesmo que eu não poderia ser igual a eles, que poderia ser melhor, e que seria.
E assim, aos 15 ou 16 anos, dei início à minha primeira grande aventura – uma aventura que incluía não apenas o puro e simples combate, mas uma aventura mergulhada em uma história tão profunda e rica em detalhes que dela saiu todo o cenário de campanha futurista, vivo até hoje, em minha mesa. Foi, e ainda é, base de todas as minhas aventuras de viagem espacial e cyberpunk. Nascia a trilogia “Centaurus em Alerta”. 

Passei os três meses seguintes à minha epifania coletando dados dos elementos que gostaria de explorar em uma aventura e, embora possa parecer um tempo longo de pesquisa, eu ainda fazia o Colegial (hoje Ensino Médio) em período noturno e trabalhava o dia inteiro, restando minha hora de almoço e momentos em que não estudava alguma matéria.Entendam que esta coleta não significou o uso real dos elementos, mas foi importante para dar volume e uma base inicial de onde partir.

Entre as principais fontes, usei filmes de categoria B, séries e livros. Entre as principais fontes, cito “Arcade – Realidade Mortal”, “Arquivo X – O fantasma da Máquina” (temporada 1, episódio 7) e “Screamers”. Estes sim formaram o núcleo que desejava em minha história.“Arcade – Realidade Mortal” deu vida à I.A. (Inteligência Artificial) escondida no mainframe central da Estação Centaurus com nome homônimo, enquanto que “O fantasma da Máquina” de Arquivo X regulou o tom que desejava para a personalidade desta I.A.  Screamers entram em cena como principal desafio e enigma logo no início da aventura, representando um segundo projeto secreto e gancho para uma futura aventura, ramificada a partir dos eventos ocorridos aqui.

É importante ressaltar que em um cenário Cyberpunk o mundo pulsa com vida, violência e alta tecnologia, por isso achei necessário dar importância ao projeto Screemers tanto quanto a Arcade. Mais tarde essa estratégia se revelou correta por incrementar maior profundidade à trama.

No enredo original, a história começa com uma tragédia: o cruzador Alpha 1N, que retornava de uma missão na estação Centaurus explode próximo à atmosfera terrestre, matando a tripulação. Fragmentos grandes também resistem à reentrada na atmosfera e atingem uma área populosa da Cidade Internacional, sede da Federação.  Mensagens corrompidas do cruzador informam problemas com o reator, um ataque cibernético e um invasor não identificado. Para complicar, a comunicação com a Estação Centaurus é perdida e uma missão de emergência é iniciada para investigar o que aconteceu com o cruzador e com a comunicação da Estação. Paralelamente, os PCs, contratados pelo S.I.A.D. (órgão militar da Federação) são incumbidos de procurar indícios de envolvimento da Corporação Lunars, até então principal suspeita de conspirar contra a Federação e talvez atacar o Alpha 1N.Esta introdução serviu como ponto de partida para toda a estrutura da aventura, que acabou por se tornar tão grande que foi necessário dividi-la em três partes:

Centaurus em Alerta: resgate suicida – narra toda a apresentação do cenário e as descobertas dos segredos sujos da Lunars. Inclui, também, uma relação social bem complicada e conflitante dos PCs com um grupo de elite do S.I.A.D., importante para o desenrolar da trama quando um acidente/ataque mata integrantes do grupo de elite e fere gravemente outros.

Centaurus em Alerta: Ameaça Fantasma – A primeira aventura encerra-se garantindo a sobrevivência dos PCs, mas a um alto custo. A Estação está abandonada, parcialmente destruída e inoperante. A corporação Lunars responsabiliza diretamente o grupo dos PCs, que está neste momento detido em um quartel do S.I.A.D. para sua segurança. Uma mensagem da Estação Centaurus obriga a equipe a realizar uma nova missão – há um sobrevivente esperando por eles, e ele quer vingança.

Centaurus em Alerta:  Inimigo Imortal – Arcade escapou de novo. E desta vez conseguiu fazer algo pior. Toda a brincadeira de gato e rato anterior não passou de um engodo para que pudesse quebrar os códigos dos satélites e realizar a transferência de seu algoritmo (ou consciência) para o mainframe do Centrum, principal centro de tecnologia e desenvolvimento da Terra. Com toda a rede de computadores ao seu dispor, e rodando em um mainframe poderosíssimo, Arcade conseguirá em poucos dias ter acesso e domínio a todos os sistemas da Terra. A equipe dos PCs está retornando rápido, mas Arcade teve acesso ao sistema militar e já preparou a recepção…


Em resumo, eis a trilogia. Nascida de um desejo de fazer uma grande aventura, e um pouco de ambição, consegui criar algo memorável que meus jogadores lembram com euforia e saudosismo até hoje. Os novos jogadores já viveram algumas aventuras no mesmo cenário, inclusive participaram da trilogia reescrita para formato de eventos. Ela foi importante por dois motivos: permitiu que eu ganhasse confiança para escrever projetos futuros e mostrou que eu estava fazendo um bom trabalho como mestre.

O sucesso deste projeto me animou para começar a escrever outras histórias e, de certa forma, posso dizer que representou o início de meu gosto pela Literatura e por escrever não apenas aventuras de RPG, mas todos os contos que vieram depois. É claro que desejo escrever esta aventura na forma de um romance sci-fi, assim como muitas outras. Quem sabe em um futuro próximo?

Até a próxima!

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